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Nestor fala de dispensa em peneira do Corinthians, críticas excessivas no São Paulo e sua redenção no Tricolor

 

"Eu nunca tinha chorado e gritado tanto por um gol", disse Nestor sobre comemoração contra o Flamengo na final da Copa do Brasil (Foto: Paulo Pinto / saopaulofc.net)

MARCIO MONTEIRO
@Marcio_oretorno

Um dos jogadores que mais subiu no conceito com a torcida são-paulina neste ano foi Rodrigo Nestor. Desde 2020 no profissional do clube, o ainda jovem meia já tem bastante história para contar no São Paulo e na carreira. Desde as duras críticas em sua fase de firmação na equipe titular, até a maior glória de sua vida, a conquista da Copa do Brasil 2023, com gol do título.

Nesta quinta-feira (21), o tradicional site ‘The Players Tribune’ publicou uma entrevista realizada com o jovem valor tricolor. Nela, Nestor falou do título da Copa do Brasil, dispensa em peneira no clube rival, relembrou seu avô, falecido durante a pandemia, sobre as críticas e ameaças que já sofreu e também do seu momento de redenção no São Paulo. Confira alguns dos principais trechos:

O COMEÇO DE TUDO

Rodrigo Nestor foi longe em duas declarações. O jogador relembrou de uma das primeiras vezes em que percebeu que tinha talento para o futebol.

“Um dia, ninguém em casa, fui bater uma bolinha sozinho na sala e pá! Acertei um sem-pulo num aquário que a gente tinha em casa. Água e vidro estilhaçado pra todo lado, o peixe se debatendo no chão esperando por resgate... É verdade que eu me senti mal pelo peixe, mas não fiquei com medo da bronca que levaria. ‘Caramba, que chute daora! Eu preciso treinar mais isso lá fora!’, pensei. Foi aí que meus pais me puseram na escolinha de futsal do bairro e tudo começou”.

DISPENSA NO CORINTHIANS

“Então me chamaram pra fazer um teste onde? No Corinthians. Futebol de campo. Fui passando uma por uma as fases da peneira. No dia decisivo, de escolher quem fica e quem vai embora, o técnico me chamou na sala dele. Ele disse que eu era muito bom, só que me faltava experiência. Que outros moleques da minha idade já tinham jogado em muito mais times e eu, só no Juventus.

A sensação, eu perceberia anos depois, foi a mesma de tomar um gol nos últimos minutos do primeiro tempo numa decisão. É duro. Seria melhor ele ter dito que eu era grosso, que não sabia jogar. Nessa hora a gente pensa em desistir. É cedo demais pra descobrir que o futebol também pode ser emocionalmente desgastante. Só 10 anos de idade, pô!”.

NOVOS ARES EM COTIA

Pouco depois, no entanto, já aos 13 anos, Rodrigo Nestor foi fazer outro teste, agora no São Paulo. 

“Fui aprovado e me mudei pra Cotia, onde treinam as categorias de base e, de repente, eu tive que crescer. Mas eu estava onde queria estar, fazendo o que eu queria fazer, mas são mudanças bem grandes que a gente vive nessa época. Pra mim, que sempre fui um cara retraído, a adaptação foi complicada. Mas não tinha pra onde correr, porque correr seria desistir — e eu não tinha chegado até ali pra desistir”.

PRIMEIRO CONTATO COM ROGÉRIO CENI

“Lembro a primeira vez que pisei no Morumbi. O clube ia lançar um terceiro uniforme e pediu dois jogadores da base pra ação de marketing. Eu fui um dos escolhidos. Foi também a primeira vez que eu vi o Rogério Ceni de perto.

Fiquei impressionado. Ele participaria do evento e tinha levado o preparador de goleiro pra aquecer, porque precisaria dar uns saltos, encenar umas defesas e tal. O cara já estava no final de uma carreira brilhante, ídolo, campeão de tudo, não precisava fazer aquilo. Mas levou um preparador pra fazer direito! Nesse dia nós não conversamos, eu nem sei se ele me notou, mas guardei pra sempre essa lição de profissionalismo”.

SUBIDA AO PROFISSIONAL E PERDA DO AVÔ

“O caminho estava aberto. Era só continuar trabalhando duro e esperar. Eu deitava à noite pra dormir e imaginava como seria marcar um gol no Morumbi lotado com 50, 60 mil pessoas, todos os meus familiares e amigos na arquibancada. Só que aí, sem nenhum alerta, a COVID chegou causando tristeza, destruição e dor. Me atropelou.

No meio da pandemia, um dia o meu avô saiu pra ir pro hospital e não voltou. Eu não me despedi dele. Não pude dizer umas palavras boas que talvez fizessem ele se sentir melhor. Não consegui levá-lo ao estádio pra me ver jogar. Não recebi o abraço dele depois de uma partida mais ou menos em que ele diria: “Jogou bem, garoto!”, mesmo se eu não tivesse jogado nada. Nem ouvir meu nome nas transmissões de rádio ele pôde.

O meu avô adorava acompanhar futebol pelo rádio. Era o pai da minha mãe, se chamava Nestor Cândido Mota. Quando eu nasci, ela me daria o nome dele, mas de última hora mudou para Rodrigo Nestor Bertaglia. Na base, no meio de outros Rodrigos, passei a ser Rodrigo Nestor. Mas desde que meu avô se foi eu quis colocar só Nestor na camisa. É para os narradores dizerem o nome dele e assim fica a minha homenagem eterna a esse homem bondoso, de coração imenso”.

Lesionado, Nestor se recupera em dezembro no CT da Barra Funda e recebeu a visita do capitão Rafinha (Foto: Divulgação/SPFC)

CRÍTICAS EXCESSIVAS

Após um grande início de 2021, com o São Paulo voltando a ganhar um título com a conquista do Paulistão, Nestor começou a ter que saber lhe dar com as críticas, da torcida e imprensa. 

“Reconheço que a gente se acomodou um pouco com o título do Paulista, sofreu pra ganhar a primeira no Brasileiro, quando foi ver já estava tarde pra brigar por Libertadores e a luta era contra o rebaixamento. No São Paulo, nessas horas, a culpa acaba caindo um pouco em Cotia. Acho que a cobrança é maior em cima de quem vem da base. Eu até entendo. O clube investe muito na base, o CT é excelente e isso gera expectativa. 

Daí que quem sai de lá e chega no profissional tem que resolver. Se não resolve, é “mimado”. Infelizmente é esse o pensamento. Algumas pessoas não veem o jogador como um ser humano. É uma máquina. Portanto, ele não sofre quando o time perde, não sofre quando tem problema em casa, quando está machucado. Ele é pago pra render o máximo o tempo todo. E no dia em que não render o máximo pode ser cobrado, xingado, até ameaçado de morte.

A gente terminou 2021 num estado de nervosismo que nunca mais eu quero sentir. Foram muitas noites seguidas sem dormir. Não deveria ser assim, mas é. Claro que nós temos que fazer a nossa parte. Essas dificuldades me ensinaram que, quando eu estiver jogando mal, preciso correr mais e nunca deixar de acreditar. E também ajuda o time. Mas tem dia que nada funciona”.

REDENÇÃO NA COPA DO BRASIL

“O futebol é uma coisa maluca. Aquele chute e aquele gol carregavam a minha vida inteira. Minha infância na Zona Leste, o futsal no Juventus, o início em Cotia e uma jornada de dez anos no São Paulo que contou com alegrias, tristezas, realizações e decepções. Não fazia muito tempo que eu tive que conviver com algumas críticas cruéis, com ameaças à minha família. Mas eu nunca quis sair dali. 

Acho que aquela minha comemoração teve todos esses ingredientes. Eu nunca tinha chorado e gritado tanto por um gol. Tinha muito sentimento envolvido naquele dia, mesmo. E pô, justo no dia do aniversário do meu pai! Nem nas minhas orações eu teria coragem de pedir algo tão grande assim.

Eu não esperava terminar o melhor ano da minha carreira lesionado. Mas, enfim… Tá aí outro negócio que faz parte da profissão. Agora é seguir trabalhando para voltar melhor, me preparar para correr ainda mais e nunca deixar de acreditar”, finalizou Rodrigo Nestor, eleito o melhor jogador da Copa do Brasil de 2023. 




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