São Paulo e WTorre discutem neste momento uma série de empecilhos entre as partes que vem não só atrasando, mas dificultando em si o avanço da parceria entre ambos para que haja início concreto da reforma do Morumbi, prevista para ser entregue no centenário tricolor, em 2030.
A informação, divulgada inicialmente pelo jornalista Jorge Nicola, surge após o AVANTE MEU TRICOLOR revelar, no início de maio, que clube e construtora acertaram o adiamento da apresentação do projeto de reforma no Conselho Deliberativo deste mês para o final do ano, provavelmente em dezembro.
Internamente, fala-se que houve "precipitação" no anúncio da parceria (na verdade, a informação vazou no final de 2023 por uma colunista de jornal), ocorrido antes mesmo do poder público efetivar as obras no Córrego Antonico, que passa sob o estádio, na zona oeste paulistana.
Alguns itens debatidos entre as partes causam estranhamento até entre conselheiros apoiadores do presidente Julio Casares, por serem questões tidas como inegociáveis pelo lado tricolor.
Dois deles, em especial, são polêmicos (para o São Paulo). E são justamente os pontos que nesse momento a WTorre bate o pé: o uso de gramado artificial e a cessão do estádio por pelo menos uma vez a cada dois meses para a realização de show e eventos.
Para os mais atentos, basta notar que são exatamente as contra-partidas polêmicas acertadas pelo rival Palmeiras para a sua arena. E que via de regra é alvo de reclamações (e piadas) por parte dos são-paulinos.
O São Paulo não cede nesses dois aspectos. Quer a grama natural (até pelo fato de Casares ser defensor da ideia de se vetar piso artificial no Brasil) e manter a autonomia sobre quando jogar na própria casa. Para isso, justifica a assinatura de contrato com a Live Nation, promotora de eventos que agenda shows para o Morumbi em datas discutidas com o próprio clube.
Além disso, São Paulo e WTorre não definiram ainda questões como número de cadeiras a serem repassadas à construtora e utilização do espaço em dias sem jogos.
Até agora, só teriam sido enviados à diretoria tricolor alguns esboços da reforma, e a ideia seria colocar à disposição dois projetos diferentes: um com cobertura e outro sem.
"Esse futuro eventual projeto, vai fazer com que o São Paulo passe a ter talvez 80 mil lugares (no estádio)… Nossa ideia é para que a gente tenha as arquibancadas, mas também tenha bem atrás do gol (setores), onde os torcedores vão ficar em pé", disse o presidente Julio Casares, à rádio 'Jovem Pan'.
Entre o fim de 2022 e o começo do ano passado, o River simplesmente acabou com a pista de atletismo ao redor do gramado e criou para o lugar dois setores. A geral, atrás dos gols, será específica para suas barras bravas (como são chamadas as torcidas organizadas do país vizinho), sem assentos. Terá 23,3 mil lugares. Nas partes centrais, a ampliação das cadeiras numeradas e de sócios deixou os espaços com capacidade total de 57,7 mil pessoas.
Com as reformas, a casa do tradicional time portenho virou o maior estádio da América do Sul, com cerca de 83,2 mil de capacidade. O Morumbi, que já foi o maior campo de futebol particular do mundo, atualmente é o quinto da relação continental, para um público de 66.795 espectadores.
O CASO
O São Paulo assinou em dezembro contrato com a WTorre para reforma do estádio do Morumbi. O acordo prevê o prazo de seis meses para a construtora apresentar um projeto de modernização para apreciação do clube.
A WTorre é quem ergueu e administra a arena do rival Palmeiras. Também é quem negocia a reforma da Vila Belmiro com outro rival, o Santos. Mas o contrato com o Tricolor será diferente dos dois.
A reforma prevê aumentar a capacidade para receber até 100 mil pessoas em shows — atualmente, o estádio comporta cerca de 80 mil pessoas. Em dias de jogos, o local terá espaço para cerca de 85 mil espectadores.
De concreto até agora no projeto estão os planos para se construir um anfiteatro modular com capacidade para até 20 mil pessoas, no espaço do portão 1 do estádio, a entrada principal na Praça Roberto Gomes Pedrosa, onde poderão ser realizados eventos esportivos e palestras, sem impacto no gramado.
Será criado também um estacionamento para cerca de 2 mil veículos, que poderá ser usado pelos sócios do clube.
O projeto são-paulino difere de Palmeiras e Santos pelo fato de que a WTorre não será dona do estádio, mas terá participação nas receitas.
ALL-NEW MORUMBI
A reforma do Morumbi é assunto na pauta do São Paulo desde que Julio Casares assumiu a presidência, em 2021.
O São Paulo espera o poder público realizar o mutirão de obras previstas para a região do Morumbi, como canalização dos afluentes da bacia do Córrego Morumbi, entre eles o rebaixamento do Córrego Antonico, que passa embaixo do estádio, e também a construção de piscinões e cisternas. As obras foram lançadas no final de fevereiro.
Desde o ano passado Casares realiza reuniões com o prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB). E este ano conseguiu em agosto a promessa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de que cerca de R$ 400 milhões serão investidos. O valor pode aumentar, já que pessoas influentes do Tricolor barganham a inclusão do pacotão de obras do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) anunciado pela gestão federal de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A expectativa é que as licitações sejam abertas em novembro de 2024.
Desde os anos 1990 há falas das diretorias do São Paulo sobre reformas estruturais profundas no Morumbi. A última de grande impacto foi em 2008, na gestão Juvenal Juvêncio, quando se prometia cobrir todo o setor das arquibancadas e também construir estacionamento. Sem a inclusão do estádio na Copa do Mundo de 2014, os planos foram engavetados.
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