O texto abaixo poderia ser baseado em diversas ideias de como se gerir financeiramente saudável um clube de futebol.
Mas, pensando bem, o protagonista das linhas a seguir é o Flamengo e não o São Paulo. E sabemos que não vivemos assim tempos tão elucidativos no que diz respeito a convencer os cariocas que de fato dinheiro não é algo infinito.
Inveja e outros adjetivos da mesma linha seriam facilmente utilizados pelos rubro-negros de plantão para atacar aquele que busca explicações sobre a responsabilidade financeira das agremiações esportivas, incluindo o time da Gávea e seu orçamento repleto de zeros à direita.
Por decisão editorial, o AVANTE MEU TRICOLOR tem como política não divulgar salários de jogadores, técnicos e afins. É uma forma dos profissionais que formam o futebol não serem atacados pelos vencimentos que mensalmente aparecem em suas contas bancárias. Mas, trocando em miúdos, Alex Sandro deixou de ser responsabilidade do São Paulo. E, por tabela, sua situação exemplifica como poucos o cenário até certo ponto aterrorizante e irresponsável que gere o esporte bretão em território nacional.
Vamos abrir essa exceção. E poderíamos até esticar o debate para outros espectros, como a dificuldade de se consolidar uma liga brasileira e o propagado fair play financeiro. Mas deixa quieto. O AMT não quer as atenções raivosas de uma parcela da imprensa esportiva que se torna notória pelo clubismo exacerbado que exerce. Principal aquela que veste vermelho e preto. Cada um com suas ilusões. E interesses.
Em primeiro lugar, é importante deixar claro que nenhum profissional tem culpa do salário que recebe. O caminho mais fácil seria o de atacar Alex Sandro e acusá-lo de mercenários e outros termos chulos. Mas preferimos olhar pela visão mais geral e ampla.
O São Paulo negociou com o lateral-esquerdo desde fevereiro, quando comunicou o seu estafe que tinha interesse em sua contratação após o término do vínculo com a Juventus, da Itália.
Pois bem, o fim do contrato do jogador de 33 anos com a Velha Senhora chegou. E parecia que o problema da falta de opções para a posição pelo lado tricolor estava solucionado.
Por dois meses, o clube do Morumbi deixou Alex Sandro livre. Tinha em mãos a promessa de que, no Brasil, ele só jogaria por suas cores. Parecia o suficiente. Mas havia a necessidade de se formular uma proposta. E ela surgiu: dois anos de contrato e um salário de R$ 800 mil mensais.
A paixão de Alex Sandro pelo São Paulo e a pressão dos familiares começaram a ser colocados em cheque quando, duas semanas depois apenas, o jogador resolveu desistir de sua aventura europeia e respondeu, enfim. Queria mais. R$ 1 milhão. E gatilhos que poderiam prorrogar o acordo por mais um ano dependendo de sua produtividade.
Ciente de suas obrigações financeiras, o Tricolor recuou. Bateu o pé nos R$ 800 mil. Aceitou, sim, como compensação, aumentar as luvas. E mais uma vez viu o jogador enrolar na resposta. Essa só veio há duas semanas, após um estranho período de treinos em Portugal, talvez sua última cartada para se manter no Velho Continente.
Alex Sandro só respondeu o São Paulo quando as notícias da negociação com Mário Rui vieram à tona. Sinalizou que fora vencido pelo cansaço e aceitaria os R$ 800 mil propostos. Mas aí apareceu o Flamengo... Os cariocas não quiseram saber a pedida salarial do lateral. E ofertaram R$ 1 milhão a mais de salário além da proposta são-paulina. Problema deles, enfim. Aqui tratamos das coisas são-paulinas. Se podem, que assim seja...
Constrangido, Alex Sandro tentou conversar com o São Paulo. Informou da oferta rubro-negra. E diante do absurdo, afinal nenhum atleta do elenco tricolor chega perto de ganhar o que ele vai receber, o silêncio foi a resposta. Vá fundo Mengão. E assim o veterano assinou por dois anos com possibilidade de renovação por mais uma temporada, encerrando a mais longa das novelas do mercado de transferências vigente.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo, diz o ditado. Se o Flamengo pode pagar R$ 1,8 milhão, o mesmo que Alex Sandro ganhava na Itália, que assim o faça. Mas o recado do Tricolor é importante. Se cobramos tanto responsabilidade de nossos dirigentes, temos de aplaudir quando o exemplo é dado. E o São Paulo, depois do furacão James Rodríguez, deu seu sinal. Sim, clubes de futebol não são bancos. Mas as decisões ainda precisam ser tomadas com a razão. Até porque o clube do Morumbi continua vivo e na disputa das mesmas competições que o rival da Gávea. Gastando bem menos.
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