RAFAEL EMILIANO
Quando entrarem em campo às 21h30 (de Brasília) desta quarta-feira (18), no Nílton Santos, São Paulo e Botafogo colocarão mais à prova que a disputa pelas quartas de final da Copa Libertadores.
Um disputa ácida de bastidores também é motivação institucional, além da pessoal, para Julio Casares, presidente tricolor, e John Textor, dono da SAF alvinegra.
Tudo graças ao clima entre ambos que azedou de vez graças a uma sucessão de fatos de bastidores que se acumula desde o início do ano passado.
Mas falamos primeiro de 2022. No movimento inicial de formação da Liga de Clubes no futebol brasileiro, coube a Casares ser o primeiro a esticar a mão ao estadunidense, até então considerado um 'estranho no ninho' entre a cartolagem, para que ele aderisse à Libra, até então uma força homogênea nas discussões.
Fato é que a relação entre os dois, que já era boa, melhorou ainda mais com o contato, com elogios mútuos. Ao ponto que Casares sequer ficou irritado com o chapéu levado dos cariocas nas negociações que levaram o zagueiro Adryelson a General Severiano quando tudo parecia caminhar para ele desembarcar do Sport no Morumbi. Tanto que o Tricolor não se opôs à venda de Lucas Perri ao time alvinegro na mesma janela.
As rusgas começaram a aparecer em meados do ano passado, quando Textor deixou a Libra e se aliou ao Forte Futebol. A pessoas próximas, Casares reclamou da falta de comunicação por parte do gringo.
Depois, já com o clima estremecido, o São Paulo não gostou do Botafogo se recusar a reduzir os valores firmados para ter o atacante Erisson, que estava emprestado no Morumbi pelo Glorioso, em definitivo
Tudo muito bem, até que este ano veio o que o dirigente são-paulino considerou "uma facada nas costas" a pessoas próximas: em abril, Textor acusou jogadores do São Paulo de 'fazerem corpo mole' na goleada sofrida por 5 a 0 para o rival Palmeiras, em 25 de outubro do ano passado, pelo Campeonato Brasileiro.
Diante do episódio, Casares atendeu pedidos internos do Tricolor e partiu para retaliação. Rompendo de vez as relações do São Paulo como instituição e do presidente como pessoa - Textor chegou a chamá-lo de amigo ao explicar (ou pelo menos tentar) a denúncia.
Casares chegou a recusar um encontro privado com o estadunidense e passou a não atender suas ligações. Em vídeo, subiu o tom contra o gringo. "Você vai entender o que é o São Paulo no futebol brasileiro", ameaçou.
Primeiro, o Tricolor registou Boletim de Ocorrência na Polícia Civil fluminense, além de entrar no Ministério Público do Estado vizinho e Justiça contra Textor, o que acabou o obrigando a tornar público os relatórios de inteligência artificial usados para basear suas denúncias (evidenciando que nada havia de concreto).
O passo seguinte foi apertar o clube carioca financeiro. Casares descumpriu acordo que tinha com Textor e moveu as ações que tinha com o associativo por calotes do Botafogo para a SAF.
A principal delas foi referente à venda do atacante Henrique Almeida em 2013 e na qual a SAF do Botafogo foi condenada a pagar R$ 5 milhões ao Tricolor.
Outras duas ações foram movidas pelo São Paulo. A primeira delas uma dívida referente à compra de 70% dos direitos econômicos do volante Tchê Tchê, em 2021.
O Botafogo pagou apenas uma parcela não divulgada dos R$ 4,8 milhões que teriam sido acertados, dos quais também teriam sido reduzidos cerca de US$ 350 mil (cerca de R$ 1,8 milhão) referentes ao empréstimo de Érison, no ano passado.
Com juros e correção monetária, o valor devido atualmente seria de quase R$ 3,8 milhões. Com o prazo vencido mais recente expirando em 20 de fevereiro, sem pagamento, o Tricolor decidiu pela ação no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
O clube do Morumbi também se prepara para entrar na Fifa contra o Glorioso. O motivo é a venda do goleiro Lucas Perri pelo time carioca ao Lyon, também administrado por Textor.
O jogador, que estava emprestado pelo Tricolor ao Náutico, acabou contratado em 2022 por R$ 1,2 milhão, com os paulistas mantendo 15% dos direitos econômicos.
Segundo revelado pela imprensa carioca, Perri deixou o Glorioso rumo à França por 10 milhões de euros (aproximadamente R$ 53,4 milhões).
Ao todo, o São Paulo mordeu 18,3% do montante, isso porque além dos 15% que manteve do goleiro, ainda recebe 3,3% pelo mecanismo de solidariedade da Fifa.
Ou seja, traduzindo em dinheiro, Perri garantiu aos cofres são-paulinos com a negociação cerca de R$ 9,85 milhões.
Mas o entendimento do Tricolor é que houve alteração dos valores de mercado, já que a transferência foi feita entre dois clubes de Textor, beneficiando aspectos como pagamento de impostos. Essa ação pode configurar transfer ban ao Botafogo e sanções pesadas ao Lyon inclusive.
A situação de Perri fez Casares endossar um coro que há muito vem crescendo por conta de Textor: o fair play financeiro. O mandatário se uniu a outros clubes, como o rival Palmeiras, para formalizar a criação de mecanismos já a partir do ano que vem. Apesar de garantir que sua intenção não ter nada a ver com o time alvinegro.
"Na questão do fair play, a nossa preocupação, e aqui não há nenhuma colocação ao clube SAF ou não, é que você tenha uma regulação da atividade, onde um clube que fatura X não pode ter investimento na contratação de um jogador que seja acima do seu faturamento. Nós temos que pensar no mercado. Que fatura mais porque foi muito competente ou porque tem uma torcida maior, pode dentro de um percentual, estabelecer um teto de investimento", disse.
"Não quero fazer acusações, não trabalho assim. Mas um jogador convocado para a seleção brasileira vale muito menos que o valor de mercado? Isso suscita dúvidas. Precisamos de uma investigação, que pode ser da Fifa ou de autoridades superiores, para cada negociação. Não estou fazendo juízo de valor, sou cauteloso, mas queremos que o futebol brasileiro consiga agora estabelecer uma melhor avaliação dos pontos de cada clube", completou Casares, sobre a negociação do Lyon por Perri.
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