A Assembleia Legislativa de São Paulo inicia nesta segunda-feira (29) uma audiência pública que deve acelerar o debate sobre a liberação da venda de bebidas alcoólicas em arenas esportivas do estado. Desde 2023 o São Paulo Futebol Clube é um dos principais expoentes na luta pela liberação principalmente da cerveja nos estádios paulistas.
O tema volta à pauta quase três décadas depois de a comercialização ser proibida, em 1995, em meio à comoção causada pela morte de um garoto de 16 anos durante briga entre torcedores de São Paulo e Palmeiras, no Pacaembu, por um torneio de juniores.
O projeto é de 2023, de autoria dos deputados Delegado Olim (PP), Itamar Borges (MDB), Dani Alonso (PL) e Carlão Pignatari (PSDB), prevê a liberação do comércio de bebidas com até 15% de teor alcoólico dentro de estádios e já recebeu parecer favorável da Comissão de Constituição, Justiça e Redação, tendo apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e articulação direta da Federação Paulista de Futebol. Clubes enxergam na mudança uma oportunidade de ampliar receitas em dias de jogo.
O AVANTE MEU TRICOLOR chegou a revelar, no fim de 2023, que o São Paulo tentou a liberação da venda de cerveja e consumo da bebida nos estádios paulistas já no Campeonato Paulista de 2024, por meio de alteração no regulamento da competição. Se dava satisfeito para conseguir, ao menos, a autorização para servi-la somente nos camarotes do Morumbi. Mesmo com o apoio da FPF, dois golpes interromperam os planos: a falta de apoio dos rivais, mais preocupados com outras questões, e o veto da Polícia Militar e Ministério Público Estadual.
Vendo que não teria diálogo com as autoridades, o presidente Julio Casares decidiu agir. Próximo de Tarcísio e da base aliada do governador, conseguiu fazer o assunto ser debatido no Palácio dos Bandeirantes. E venceu a queda de braço inicial com a PM e MP-SP.
Na prática, a proibição nunca foi totalmente cumprida. Ambulantes vendem cerveja nas imediações dos estádios, sem fiscalização efetiva, e no interior o consumo ocorre até dentro das lanchonetes. A legislação atual veta a comercialização tanto dentro dos estádios quanto num raio de 200 metros do evento, mas se transformou em letra morta.
No São Paulo, Casares já disse em mais de uma ocasião que pretende “lutar para derrubar esse veto”. Em entrevista à ‘TV Cultura’ em setembro de 2023, apontou a incoerência entre futebol e outros eventos.
“Por que num show do Coldplay pode-se vender tudo? Há uma discriminação nisso. Isso tem que ser discutido. Acredito que temos aqui uma hipocrisia: ‘Não pode beber cerveja no estádio!’ E o cara bebe tudo lá fora!” Dois anos depois, em entrevista ao Uol, Casares reforçou a mesma linha: “As brigas dentro do estádio não acontecem; elas acontecem fora. E deixamos dinheiro na mesa. Cerveja é algo de consumo. Por que num grande show pode bebida alcoólica, e no futebol não? ‘Ah, são públicos diferentes.’ Opa, tem preconceito na história”, disse.
O diretor de marketing Eduardo Toni também já criticou a situação, destacando o risco maior do consumo desregulado nas ruas.
“Nas imediações do estádio, vende-se bebida alcoólica, sem pagar tributos e tal. E aí o cara não tem conforto nem segurança”, disse.
Números internos da diretoria são-paulina mostram que a liberação da cerveja nos bares representaria um aumento imediato de até 39% nas receitas do Morumbi. E o estádio foi a segunda maior fonte de dinheiro do clube no ano passado. Ademais, a presença da bebida mais consumida pelo brasileiro é vista como propulsora para se fechar contratos mais lucrativos com camarotes e patrocinadores.
A audiência ocorre em um cenário em que a liberação já é realidade em outros estados e até em competições nacionais. Para os defensores do projeto, São Paulo está atrasado na discussão e perde não só receitas, mas a chance de organizar de forma segura um hábito que já existe, mas fora do alcance das autoridades.