Duas novas reportagens publicadas na imprensa no decorrer da última semana jogaram mais luz sobre o fundo de investimento em participações (FIP) que o São Paulo pretende criar, em parceria com a Galápagos, para gerir suas categorias de base.
A ideia tem sido desenhada desde 2023 e ganhou forma nos últimos meses, com previsão de aporte inicial de R$ 250 milhões. Do total, R$ 200 milhões serão destinados ao CFA Laudo Natel, em Cotia, enquanto R$ 50 milhões servirão para reduzir parte da dívida do clube.
O modelo, regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foi construído após consultas a 58 potenciais investidores — entre bancos, fundos e outros agentes do mercado. Depois de várias apresentações e ajustes, a Galápagos tornou-se a parceira escolhida para viabilizar o plano.
O desenho prevê a criação de uma unidade de negócios própria para a base, apartada da associação civil que hoje controla o futebol profissional. Nessa nova estrutura, o São Paulo manterá 70% de participação, e os investidores ficarão com 30%.
A base, tradicionalmente disputada dentro da política interna do clube, deixaria de ser administrada por dirigentes amadores para passar às mãos de profissionais. O fundo terá um conselho gestor com dois membros indicados pelo São Paulo e um pelos investidores, e a diretoria financeira será escolhida pelos sócios minoritários. Já o CEO será indicado pela Galápagos, acompanhado de auditores externos, e sob sua supervisão estarão cargos estratégicos como diretor operacional, gestor financeiro, diretor de vendas e head de scouting, sem a possibilidade de que conselheiros são-paulinos ocupem essas funções, de acordo com o portal ‘Arquibancada Tricolor’.
O clube faz questão de ressaltar que o modelo não prevê cessão de direitos econômicos de atletas nem divisão de receitas diretas de vendas. A participação dos investidores se limitará a 30% do resultado líquido da operação. Em outras palavras, eles entram apenas na parcela de lucro que exceder despesas e investimentos.
Hoje, de acordo com levantamento da diretoria, a base gera uma receita média anual de R$ 123 milhões em transferências, contra R$ 48 milhões de custos de formação — um superávit de R$ 75 milhões. Atualmente esse valor fica integralmente com o São Paulo; no novo arranjo, 70% seriam mantidos pelo clube e 30% destinados aos investidores.
ÚLTIMAS DO TRICOLOR
>> Independente convoca protesto no Morumbi, e líder da organizada provoca jornalistas e blogueiros torcedores
>> Ingressos para São Paulo x Ceará: Tá sobrando! Veja preços e informações para o próximo jogo pelo Brasileirão
>> Sobrou o Brasileirão e torcida tem que fazer do resto do ano um inferno para Casares e diretoria do São Paulo
>> Post de provocação ao São Paulo após eliminação gera atrito entre LDU e uruguaios
>> VIRALIZOU: Torcida relembra antiga entrevista em que ex-presidente Juvenal Juvêncio afasta 7 jogadores de uma vez
>> DESCEU A LENHA! São Paulo detona o Flamengo após cariocas bloquearem pagamento de R$ 77 milhões em cotas
A discussão está justamente na relação custo-benefício. Se a base mantiver apenas sua média histórica, o São Paulo dividirá um resultado já positivo com terceiros. O projeto, então, só se justificaria caso o novo modelo aumente significativamente a arrecadação. Para isso, os R$ 200 milhões a serem injetados em Cotia deverão servir como alavanca.
A previsão é de que, a partir do terceiro ano, o resultado líquido quase dobre em relação à média dos últimos tempos, chegando a R$ 159 milhões anuais. Uma das estratégias para atingir esse crescimento está na ampliação da rede de captação de talentos. Hoje são apenas oito olheiros, e o plano prevê 20, com atuação internacional em países como Argentina, Uruguai, Venezuela, Colômbia, Peru e Equador.
Além disso, serão criados quatro clubes parceiros em regiões estratégicas do Brasil — São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná, segundo o portal ‘Sport Insider’. Esses times funcionarão como satélites de Cotia, envelopados pela metodologia do Tricolor, e permitirão captar jovens que ainda não têm idade para se mudar para o centro de formação.
Outro ponto central do projeto é a modernização da infraestrutura. Está prevista a construção de um campo adicional, a reforma dos gramados já existentes e a instalação de um campo sintético de última geração. Também será erguido um ginásio coberto. O investimento contempla ainda a contratação de atletas semiprontos a partir do sub-15, visando a encurtar o tempo de formação e aumentar as chances de retorno esportivo e financeiro.
No desenho financeiro, parte do aporte também se destinará a aliviar o passivo tricolor. Embora R$ 50 milhões representem pouco diante da dívida total, a diretoria calcula que, ao quitar empréstimos mais caros, o clube economizará cerca de R$ 13 milhões em despesas financeiras anuais.
O plano também prevê que os custos da base, hoje arcados pela associação, passem a ser bancados pelo fundo, liberando recursos para o futebol profissional.
Um aspecto que gera debate é o tempo de retorno e a possibilidade de o clube recomprar os 30% vendidos. Segundo o ‘Sport Insider’, o contrato preverá opções de recompra no décimo, no 15.º e no 20.º ano de operação O valor dependerá dos resultados obtidos: se a base for muito lucrativa, os ganhos dos investidores compensarão o aporte inicial, permitindo que o São Paulo recupere a participação por um preço simbólico. Se, por outro lado, o plano fracassar, a recomposição sairá mais cara.
Internamente, a diretoria tem promovido um ‘roadshow’ para esclarecer dúvidas de conselheiros e jornalistas. A proposta encontra resistências, seja por receios quanto à perda de controle da base, seja por falta de informação precisa sobre o modelo.
O presidente Júlio Casares evita usar termos como “venda da base”, mas admite que a governança será alterada e que os investidores terão peso nas decisões. A aposta é que a profissionalização compense a perda de 30% do resultado financeiro, ampliando o potencial de Cotia em comparação a rivais como Palmeiras e Flamengo.
O São Paulo reforça que não haverá pressa para negociar atletas, com as primeiras vendas projetadas apenas para a terceira janela após a criação do fundo. O objetivo é estruturar a nova operação, atrair jovens de maior potencial e consolidar Cotia como referência.
Atualmente o centro de formação reúne 296 atletas, divididos meio a meio entre níveis A/B e C/D. O objetivo é chegar a 708, com 90% pertencentes ao nível A/B, considerados de alto potencial. O projeto, se aprovado, representará uma mudança profunda não apenas no financiamento, mas também na forma de gerir a base.
A profissionalização da estrutura, a expansão do alcance geográfico e os investimentos em infraestrutura e captação são os pilares da proposta. A expectativa da diretoria é levar o tema à votação no Conselho apenas quando entender que há maioria garantida para aprovação. Também deverá ser necessária a aprovação de uma assembleia-geral, conforme determinado pelo artigo 43 do estatuto.