Depois de cinco anos na presidência, acostumado a ficar blindado pela falta de declarações públicas contundentes e uma certa resignação de grande parte da torcida, Julio Casares sentiu o baque.
Essa é a conclusão que podemos tirar depois da entrevista coletiva concedida pelo presidente são-paulino na tarde desta sexta-feira (28) no CT da Barra Funda.
Pela primeira vez desde ocupou o posto máximo do clube do Morumbi em 2021, o dirigente teve que agir publicamente para estancar uma crise que veio se acumulando desde o início do segundo semestre, teve um ápice na eliminação na Copa Libertadores para a LDU em casa e explodiu de vez agora, com a goleada sofrida para o Fluminense no Maracanã.
Foi um dia como há muito não se via no Tricolor, com a saída de toda a cúpula do futebol profissional e o clima de insatisfação escancarado com a declaração do volante Luiz Gustavo ainda no gramado, expondo a falta de contundência da gestão Casares nos designíos do rumo são-paulino.
Sem ter como utilizar os artifícios habituais de outros momentos de turbulência anteriores (muito menos graves, verdade seja dita), restou a Casares sentar, responder os jornalistas e colocar os pingos nos is, visivelmente abatido e falando mais baixo que o normal. À sua maneira, é claro, com frases rocambolescas, períodos longos e promessas de dias melhores. O problema, nesse caso, é que resta apenas um ano para ele agir com contundência. E o cenário é de indefinição total.
Mesmo assim, primeiros socorros foram dados à vítima São Paulo Futebol Clube. E veio a oficialização daquilo que já se sabia que aconteceria há mais de um mês.
“Estou aqui hoje, muito triste. Momento desastroso ontem. As mudanças foram necessárias. Nós estávamos prevendo mudanças após o fim do Brasileirão e tivemos que antecipar o processo. A vinda do CEO, o Marcio… Ele está aqui exatamente para apoiar o processo de profissionalização cujo o futebol terá o comando do Rui Costa e do Muricy (Ramalho). Assim como ele fez em outros departamentos, ele está aqui para apoiar e acelerar o planejamento para 2026”, disse.
“Não teremos nenhum conselheiro (no departamento de futebol). O futebol será tocado por profissionais. Rui Costa e Muricy. Ele (Marcio Carlomagno) não assume como diretor de futebol. Em qualquer empresa, o CEO é o chefe de todos”, revelou.
Muito além das saídas de Carlos Belmonte, Nelson Marques Ferreira e Fernando Bracalle Ambrogi, o presidente teve que tentar contornar duas bombas que surgiram. Uma, já mencionada, são as falas de Luiz Gustavo. A outra veio horas antes, a movimentação da oposição para que ele renuncie.
“Eu me sinto parte integrante deste momento. A responsabilidade é coletiva. Do presidente, da diretoria, da comissão técnica e dos atletas. Em segundo lugar, eu tenho mandato. Acho normal a oposição fazer isso (pedir impeachment). Hoje recebi apoio da coalizão. E tenho, sim, caminhos, porque tudo indica que faremos um belo balanço financeiro. O que nos dá envergadura para ter um 2026 como já foi no passado, com competitividade”, completou.
“Eu vejo com normalidade até a frustração do Luiz, que é a nossa frustração. É um grande profissional e acredito que a mensagem que mais tocou foi que ele não apontou A, B ou C. É uma questão coletiva. Nesta questão de erros coletivos está o presidente, o diretor de futebol, a comissão e os atletas. Agora é olhar para frente e esperar. Tudo o que acontece temos uma reflexão a fazer”, indicou.
“Hoje o Rui atendeu ele (Luiz Gustavo), conversou com ele. É uma conversa interna. Quando fala que nada acontece por acaso, você olha e vê 15 lesionados, vê muitas dificuldades. Eu entendo que essa falta de condição competitiva também se deu por excesso de lesões. Não é normal. Mesmo o Luiz sofreu uma questão de saúde, o São Paulo, como instituição, ficou com ele durante todo o instante. Todos nós olhamos isso com naturalidade, confiando nos profissionais, e acredito que essa reflexão que ele fez envolve vários setores”, disse.
“São erros coletivos, envolvendo presidente, diretoria, comissão técnica e atletas. Tendo essa constatação é olhar para frente, como estamos fazendo. A questão do investimento é algo que eu tenho trabalhado muito. Podem dizer que o presidente tem que estar ali, numa outra reunião. A atribuição é comercial também. Quando falamos em investimento, é a presença do presidente que tem a possibilidade de fazer, sem enumerar o tipo, o tamanho e a forma de investimento. Vamos ter processos de definição após o final do Brasileirão”, apontou.
Por mais de quatro vezes, os colegas jornalistas presentes reforçaram a pergunta mais feita pela torcida: qual a avaliação de Casares sobre sua gestão? Afinal, por que o São Paulo nunca admite os seus erros? De novo, de maneira prolixa, mas até certo ponto explicativa, o presidente tratou de responder à sua maneira.
“Erros estão na conta do coletivo, envolvendo o presidente, num planejamento que não foi feliz em 2025. Em nenhum momento a vinda de um CEO para cá teve como objetivo isolar pessoas. O fato de não ir ao jogo é um ato de decisão pessoal (do Belmonte), quando pode ou não pode. Em nenhum momento tivemos problemas”, disse.
“Tenho com o Belmonte um convívio de cinco anos. Falei com ele hoje. Momentos bons, ruins. Sofremos eliminações grandes. Em nenhum momento foi colocado em dúvida aquele trabalho. A vinda do Marcio é pela familiaridade dele com os processos de estrutura orçamentária. Eu encaro como uma ajuda. Se vocês representam empresas, sabem que lá tem um CEO. Em nenhum momento teve essa conotação (de isolamento)”, acrescentou.
“É difícil enumerar erros. Acho que o erro do presidente foi delegar, como sempre deleguei. E sentir que o planejamento teve falhas. Eu me coloco dentro dele. Eu não jogo a responsabilidade no futebol. 2024 já foi um ano difícil, mas disputamos um grande jogo contra o Botafogo (pelas quartas de final da Libertadores). Colocamos alguns reforços que tiveram infelicidade de contusões. Nessa linha que erramos, eu acho. Com o calendário, poderíamos ter outros reforços. Mas eu não gosto de individualizar, apontar”, completou.
Aqui tivemos um deslumbre de admissão de culpa? Talvez. Casares enfim não teve como discordar da opinião de nove em cada dez são-paulinos neste dia manchado da história: o ano foi horroroso. E é necessário mudar muita coisa para 2026.
“Claro que foi um ano ruim. Acentuado pelo resultado desastroso de ontem. Acentuado. Me lembro que quando estávamos aqui com outro treinador, um cara sério, muitos articulistas diziam que o São Paulo era candidato ao rebaixamento. O São Paulo teve uma reação, estamos em oitavo lugar. O futebol de ontem antecipou processos. Estou aqui hoje fazendo ‘mea culpa’. Acredito muito na unidade. Conversei muito com o Belmonte, outros diretores, e temos um caminho de união muito forte estabelecido”, apontou.
Se vai dar certo? Aí são outros quinhentos. Nesse momento, o que vale é entender que pelo menos o presidente, conhecido pela omissão e o populismo, agiu. Pode não ser da maneira correta. Mas um tostão é mais que suficiente para quem está passando fome. E o são-paulino está faminto há anos…










